Um estudo
internacional inédito, que comparou dois ativos contra a osteoporose,
mostrou que a teriparatida reduz em mais da metade o risco de novas fraturas
vertebrais em mulheres com a doença em estágio grave. Os resultados
foram publicados no começo de novembro na revista cientÃfica The Lancet e
contou com a participação de 1.360 mulheres acima dos 45 anos e na
pós-menopausa do Brasil e de mais 14 paÃses da Europa, América do Norte e
América do Sul.
O
composto estimula a célula que forma os ossos - chamada osteoblasto - e
apresentou melhor resultado que o risedronato, que age para diminuir a ação da
célula responsável pelo processo natural de perda óssea, o osteoclasto.
O
estudo dividiu as mulheres igualmente em dois grupos: um recebeu aplicação
diária, subcutânea, de 20mcg de teriparatida mais placebo oral semanal, e o
outro ingeriu 35g de risedronato semanalmente mais injeção diária de placebo.
Todas as participantes já apresentavam fraturas e 72% tinham feito algum
tratamento com medicação.
Ao final dos
dois anos de acompanhamento, a teriparatida reduziu em 56% o risco de novas
fraturas vertebrais - foram 28 casos contra 64 do grupo do risedronato. O
composto também diminuiu em 54% a incidência de fraturas novas e agravadas
(piora das fraturas leves já existentes), além de reduzir em 52% o risco de
fraturas clÃnicas, aquelas que apresentam sintomas. Mulheres que não melhoraram
com a terapia anterior ao estudo também tiveram bons resultados com a teriparatida.
"Os
dois medicamentos são bons, a escolha depende muito do paciente e do médico.
Mas na osteoporose grave, em que já existe fratura, a teriparatida foi
significativamente mais eficiente", diz Cristiano Zerbini, reumatologista
do Hospital SÃrio Libanês e um dos coautores do estudo. O reumatologista
explica que a teriparatida é usada em casos mais graves da osteoporose, em que
a perda óssea está adiantada e existe fratura. Os resultados positivos, segundo
ele, também valeriam para os homens.
O
médico explica que as fraturas da osteoporose ocorrem, principalmente, nas
vértebras, além de no osso do punho e fêmur. A maioria delas é assintomática e
apenas 1/3 das pessoas com fratura vertebral tem dor. Os demais pacientes nada
sentem porque as fraturas são pequenas e a doença só é percebida quando há
diminuição da estatura. O diagnóstico é feito por meio de um exame de imagem e
o problema é constatado quando há 25% de perda óssea.
Grupo de risco. A partir dos 45 anos, o esqueleto
humano passa por uma perda natural da massa óssea de 0,5 % ao ano. Por vezes, a
célula responsável pela perda óssea pode atuar mais do que aquela que forma os
ossos, o que agrava o processo e aumenta o risco de fratura. O problema é mais
frequente em mulheres após a menopausa, uma vez que o estrógeno - hormônio
feminino que, entre outras funções, é um grande protetor dos ossos - diminui, o
que pode acelerar o desgaste ósseo.
Além
disso, a constituição do esqueleto humano faz com que o da mulher seja mais
delicado que o do homem. Zerbini explica que, por ordem de resistência, o do
homem negro é mais forte, depois vem o da mulher negra, homem branco e mulher
branca. Nos homens, a osteoporose aparece por volta dos 70 anos, e a incidência
é de um homem para oito ou dez mulheres, ele diz. Isso ocorre porque a
testosterona persiste em um nÃvel adequado por mais tempo neles, embora não
seja tão potente na proteção dos ossos quanto o estrógeno. O reumatologista diz
que, até nos homens, os ossos são protegidos pelo pouco estrógeno que há no organismo.
Ingestão de cálcio. O consumo de
cálcio - que contribui para evitar a osteoporose - pelas mulheres também é
inadequado. O Estudo Latino-Americano de Nutrição e Saúde avaliou questões
nutricionais na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Peru e
Venezuela e mostrou que, nesses paÃses, 93% delas com idade igual ou superior a
45 anos não consomem o ideal recomendado - uma média de mil miligramas por dia.
No Brasil, o Ãndice chega a quase 100%.
"Um
dos principais fatores é o desconhecimento da importância desse mineral e das
fontes de cálcio mais importantes e alternativas", diz Marianella Herrera
Cuenca, diretora do Observatório Venezuelano de Saúde e membro do Conselho
Executivo da Fundação Bengoa, que apresentou os dados em outubro no Congresso
Internacional de Nutrição.
Segundo
a especialista em nutrição, o cálcio também é importante para a saúde
cardiovascular e estudos indicam a relação entre o déficit desse mineral e a
presença de sobrepeso ou obesidade. Assim, o consumo adequado tem impacto na
perda de peso em mulheres obesas.
Prevenção. Cerca de 90% do
nosso esqueleto é formado até os 20 anos de idade e até os 30 está completo.
Dos 30 aos 45, a massa óssea fica estável, e tudo o que é perdido pelo
osteoclasto, o osteoblasto repõe. Cristiano Zerbini afirma que a principal
forma de prevenir a doença é o consumo adequado de leite e derivados, que é
parte da dieta mais rica em cálcio. Para quem não consome laticÃnios, outras
fontes desse mineral são os vegetais verde-escuros (brócolis, agrião,
couve-manteiga, espinafre), castanhas e sementes (gergelim, amêndoas, nozes) e
leguminosas (soja, feijão, grão-de-bico).
A vitamina D também é importante, pois age no intestino para a absorção do cálcio, levando-o para a circulação. Para obtê-la, o médico indica expor a pele ao sol por 20 minutos, três vezes por semana. Marianella observa, porém, que não se pode assumir que somente a exposição à luz solar forneça a vitamina, uma vez que as pessoas não estão expostas ao sol em grande parte do tempo. Laranja, peixes, ovo, fÃgado e cogumelos também são fontes dessa vitamina. Outra recomendação é a prática de exercÃcios fÃsicos, pois "músculos tensos fazem ossos", diz Zerbini.
Fonte: Estadão